Babalaza = Ressaca; efeitos posteriores desagradáveis depois de se ter bebido em excesso. A origem do termo encontra-se algures entre babalaas do Afrikaans, bubble-arse do Inglês e ibhabhalazi do Zulu.

20 May 2005

A solução não é dar o peixe, mas sim ensinar a pescar

Há uns anos atrás, alguém dizia-me que para Moçambique o que interessava era mostrar a sua pobreza aos de fora.
Explicando melhor. Essa mesma pessoa dizia-me que, no tempo do Samora, fazia-se questão de ter a “casa arrumada”. O lixo, as estradas esburacadas, a pobreza ao olhar de todos, era coisa que se procurava evitar e, acima de tudo, procurava-se esconder. Principalmente quando se recebesse visitas.
Mas os tempos agora são outros.
E, agora, o que interessa é mostrar essa mesma faceta, antes escondida, ou, pelo menos, não tão agravada.
De há uns anos para cá, interessa mesmo é mostrar as ruas esburacadas, as lixeiras a céu aberto, a pobreza e os seus bairros de lata (ou caniço, como queiram). Principalmente quando se recebe altos dignatários de fora.
A estrada que vai do aeroporto de Mavalane para a cidade de Maputo, é disso exemplo. Para quem nunca foi a Moçambique, e após o desembarque se depara com um cenário daqueles, é algo que choca.
Mas os tempos são outros. Agora interessa ter isso a olhos vistos, porque o país depende dos donativos estrangeiros, e esse donativos só aparecem se as carências do país estiverem à vista de todos.
Isto a propósito de um texto do Mia Couto, publicado no semanário “Savana” de 13 de Maio passado, que eu a seguir passo a transcrever.


Distritos de quem?

Aconteceu há uns dois anos atrás, viajava eu na minha condição de biólogo, por vários distritos do interior do país. A minha profissão me obriga, felizmente a esse constante mergulho na diversidade de situações que caracteriza este caleidoscópio chamado Moçambique. Essa visitação da nossa realidade deveria ser uma escola para todos os jovens urbanos que desconhecem o “outro lado” do país.
O que me chocou, dessa vez, não foi tanto a falta de recursos. Foi, sim, a falta de percepção de uma resposta às grandes perguntas. Não havia ideia de saída.
Perguntava-se aos gestores daqueles territórios sobre o que pensavam sobre o progresso do espaço de que eram responsáveis e a resposta variava entre o lamento e atribuir de culpas a outros. Estava-se à espera de fundos que, como manda o destino, “haveriam de vir”. É verdade que esses fundos eram preciosos para se dar a volta a algumas das situações de carência básica. Mas a questão dos fundos é, ela própria, uma questão sem fundo. E uma coisa é esperar, outra é ficar à espera.
O mais grave, para mim, era a pobreza do diálogo, a miopia para descortinar um esboço de luz no limiar do túnel. A ideia de presente e de futuro limitava-se a uma lista de necessidades e carências. Pediam-se ideias e devolviam requerimentos com pedidos de apoio. Os apoios situavam-se sempre nas infraestruturas. Precisamos disto, daquilo, daqueloutro.
Pediam-se perspectivas e davam-nos um peditório dirigido ao governo. Ou aos doadores. A relação desigual e distorcida entre países pobres e ricos parecia estar sendo reproduzida a nível nacional entre o governo central e as regiões interiores. Deixámos, desde há muito, de nos olharmos como produtores. Somos receptores eternos. A nossa arte estará em descobrir novas estratégias de pedir, novas formas de seduzir os chamados “doadores”. Esta autonomia na produção de soluções é uma das áreas que mais carece de corte com a passividade e o chamado deixa-andar.
A ideia de que o progresso se mede por dispor de mais edifícios é uma ideia perigosa porque absolutamente dominante. É verdade que mais unidades escolares e sanitárias são condição indispensável. Mas a condição produtiva do distrito é, sim, o ponto nevrálgico se queremos construir futuro. Que riqueza produz (e pode produzir) cada distrito? Que passos dar até que essa riqueza potencial se converta em valor realizado? Sem resposta a estas questões os distritos serão unidades que pesam num todo já fragilizado. Serão braços que mendigam num corpo que necessita de mãos que produzam.

Mia Couto

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Olá Babalaza, fico contente por chegar e ver o teu blog bem reactivado!, Abraço, IO (chuinga).

9:25 AM

 
Blogger Passada said...

Babalazado, sem querer entrar muito na forna seja da corrupção, seja do nosso estado (presumo que vivas em Moçambique)económico, certo, certo é que a forma como as coisas foram feitas obrigam-nos a que passemos largos anos a pagar essa dívida. Mesmo que muita perdoada. Há questões sociais profundas que precisam ser trabalhadas (produtividade, crescimento), e talvez o nosso próprio crescimento enquanto país no seu todo. Quando isso acontecer, esta situação tenderá a reduzir por inerência. Não achas?

12:07 PM

 

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